Qualquer semelhança não é mera coincidência. Tampouco não é à toa que suas obras ricas em módulos aleatórios e elementos geométricos simples se aproximam tanto às do mestre Athos Bulcão, de quem foi discípulo e recebeu as primeiras lições de integração da arte à arquitetura. Mineiro de Belo Horizonte, Alexandre Mancini é sem dúvida a expressão máxima da azulejaria brasileira, expandindo cada vez mais um repertório em criações modernistas estampadas em todo país, principalmente em sua cidade natal onde se destaca o complexo arquitetônico da Pampulha, o Edifício do Sebrae / MG e a Sede do Clube Atlético Mineiro, ilustrada com a história de seus craques mais icônicos. No azulejo assinado há uma dedicatória de Alexandre a seu pai, pessoa que lhe ensinou a amar o clube. Vê-se, portanto, que a obra é algo puramente pessoal e emocional.

Embora a arte da azulejaria não faça tanto tempo na vida de Mancini, o interesse pela estética da arquitetura moderna brasileira se manifestou desde cedo, talvez por influência do avó materno, um dos pioneiros na construção de Brasília. Antes mesmo de se dedicar a área de sua paixão trabalhava com tudo um pouco até montar uma pequena empresa dedicada a decoração de porcelana e vidro, onde adquiriu know-how da produção de cerâmicas.

ATHOS BULCÃO, UM DIVISOR DE ÁGUAS

Em 2006 iniciou a arte com azulejos dedicando-se aos painéis assinados e exclusivos. Um ano depois conheceu Athos Bulcão, um encontro que definiu sua trajetória e desde então criou uma estreita relação com a Fundação Athos Bulcão que atualmente representa com exclusividade os desenhos influenciados pela estética do mestre que ele se empenha em dar continuidade. Segundo Alexandre, Minas Gerais, e mais especificamente Belo Horizonte, não recebeu a influência da azulejaria portuguesa por motivos diversos. "Nossa cidade é jovem, nasceu ligada à modernidade, ao contrário das cidades litorâneas brasileiras". Ele explica que na capital mineira se desenvolveu uma azulejaria de estética própria, que em seguida também se revelou em Brasília, que é outra jovem capital brasileira.

INSPIRAÇÃO

O artista revela que seu trabalho tem criação inicial mental, pensada e vislumbrada. "Aí está toda a concepção de uma obra ou uma estética. O passo seguinte é fazer das palavras e visões o desenho propriamente dito". Embora admita que a influência de Athos Bulcão em seus azulejos seja inevitável, Mancini acredita que com o passar do tempo e com a evolução de uma linguagem bem particular baseada em novos pensamentos, novas formas de composição e novas abordagens seus trabalhos se distanciaram muito dos que eram feitos no início de sua carreira. Há dois anos um dos painéis de Mancini se transformou em música - Tempestade de Triângulos - expressando suas criações mentais e depois escritas. Este ano o azulejista pretende investir mais nesta ligação entre arte (desenho) e música. "O trabalho é basicamente musicar os vértices do desenho em seus diferentes planos e movimento". Quanto aos painéis que ilustram bem a interferência positiva da arte no cotidiano, Mancini cita os do Clube Atlético Mineiro, que desperta os mais variados sentimentos de paixão, e o da região hospitalar de Belo Horizonte. "Essa obra cheia de cores foi pensada e criada para tentar amenizar os sentimentos frágeis típicos daqueles que frequentam o local levando um pouco de alegria e leveza", filosofa o artista.

Matéria de Norma Santos, jornalista e designer de interiores

Fotos: Elcio Paraíso e divulgação