A Tomada da Bastilha Décor: o Design Rompe Fronteiras
Saber que o Edifício Acaiaca seria palco de uma mostra de design e que eu iria prestigiar minha parceira Templuz que abraçou o projeto, causou-me quatro sentimentos e uma reflexão: espanto, receio, curiosidade, surpresa. Nessa ordem.
Espanto; afinal o lugar escolhido pelos oito profissionais para expor o seu trabalho era no mínimo inusitado; totalmente fora do circuito décor habitual.
Receio; o segundo sentimento, mundano eu confesso, foi pensar que pelo lugar (centrão da cidade, zona do agrião) passa diariamente cerca de 10 mil pessoas e é difícil de estacionar.
Curiosidade; afinal trata-se de um edifício histórico, Art Déco, construído durante a Segunda Guerra Mundial (seu porão já serviu de abrigo antiaéreo), projeto de Luiz Pinto Coelho, formado na primeira turma de Arquitetura de BH, um marco da verticalização da cidade e hoje mais conhecido pelas duas efígies de índios que ornam sua fachada e honram seu nome.
Surpresa; a mostra seria na cobertura, em 600 m² de vão livre, no 30º andar há 130 metros de altura, com direito ao skyline da Serra do Curral. Ao chegar perdi o fôlego, a vista de lá é deslumbrante!
E FINALMENTE, REFLEXÃO
Depois de circular entre os ambientes conceituais, onde mobiliário e referências Art Déco se harmonizavam com a mais fina flor do design contemporâneo mineiro - leia-se Alva Design e Juliana Vasconcellos - montados pelo recém-criado Coletivo P, oito cabeças pensantes e antenadas da Arquitetura e Design de Interiores que apostaram no Design Colaborativo, comecei a entender o porque de a Templuz encampar a causa de corpo e alma e arregaçar as mangas junto com a turma: é que o papel do design pode ir bem além da estética.
O design pode servir também como ferramenta de (re) apropriação cultural, de reaproximação do cidadão com suas raízes, de resgate histórico e de revitalização de espaços abandonados e esquecidos que podem ganhar novos usos e serem redescobertos. Como disse Calebe Asafe, Diretor Nacional de Conteúdo da ABEDESIGN, "Por ser disciplina transversal, inevitavelmente humana, o design transcende a estética. Cada peça só ganha vida no contexto das pessoas e espaços para o qual foi planejada ou inserida. O design enfrenta com galhardia o desafio de aproximar projetos de pessoas."
E eu completo com certa licença poética já que 14 de julho está chegando: por seu amplo significado que, como disse Calebe, transcende a estética, esfera na qual quase sempre o design fica circunscrito, a mostra do Acaiaca foi uma espécie de Tomada da Bastilha décor onde a Templuz foi uma grande Aliada (palavra dos profissionais envolvidos).
Ah, e para aqueles que ficaram curiosos quanto ao meu receio, ele foi rapidamente eliminado pela alegria da possibilidade de me ver parte da diversidade ( afinal são 10 mil...) e pelo conforto da lembrança da existência de Uber, Cabify, taxi lotação e afins...
P. S. O Coletivo P é formado por Bruna Figueiredo, Eveline Porto, Fabíola Constantino, Graziella Nicolai, Letícia Dias, Marina Dubal, Rachel Ramos e Rodrigo Aguiar.
Fotos: Henrique Queiroga e Acervo
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